Ensaio sobre versatilidade, ou introduzindo David Wang
Há artistas de todos os tipos: pintores, escultores, músicos,
clássicos, orientalistas, minimalistas, dadaístas, modernistas, entre tantas outras possibilidades. Os que mais me impressionam
são os inclassificáveis. Entre esses inclassificáveis encontra-se David Wang. David Wang é um chinês, radicado em Londrina, que se dedica às artes de um modo geral.
Sua vida pulsa arte, cada projeto, cada trabalho a que se dispõe em cada minuto de sua vida é relacionado à arte. Na pintura
é que esse artista mais se destaca, quer por cultuar e praticar como poucos a técnica do sumie, aprendida na tenra infância
em sua terra natal, quer porque estuda e se dedica a compreender e a reproduzir quadros neoclássicos. Sua vasta coleção de
quadros explora diversas temáticas com profundidade e requinte. Aliados aos temas principais do sumie, arte já somatizada,
Wang desafia as concepções estéticas predominantes, pintando desde excelentes paisagens
e belíssimos quadros de animais. Não é um mero “fugere urbem”, mas sim uma mostra de deslumbramento, de fascinação,
de encanto no reencontro com a Natureza e cada um de seus pequenos e sutis elementos. Um cavalo, em sumie, um gato em óleo,
um acrílico de cachorros e tantos outros pontos de vista espontâneos sobre o pulsar da vida. Por não ser um artista de um
só tema, também retrata o instinto “carpe diem” do homem moderno, ao se debruçar sobre entretenimento, diversão,
esporte: expressões da felicidade. Além disso, não se exime de reproduzir paisagens urbanas, o que afasta quaisquer classificações
levianas, que o pudessem colocar como neo-parnasiano. Em busca de desafios, também reproduz quadros de outros artistas, trabalhando
arte através da imitação, visando a interiorizar as mesmas dificuldades enfrentadas, trilhando o caminho dos grandes mestres
da pintura. Quanto ao suporte de suas pinturas, David Wang costuma variar, sempre em busca de um material que lhe permita fluir sua energia
para sua obra; usa, por isso, tela, madeira, ou, mais recentemente, MDF (prensado de fibras de madeira e resina), está sempre
disposto a novos experimentos. No entanto, sua versatilidade não se exaure na pintura, ao revés, alcança outros setores
da arte. A poesia, irmã do sumie, acompanha seus quadros, seguindo tradição chinesa milenar. Nesse mesmo passo, também se
percebe o culto à caligrafia (shodo), muitas vezes olvidado e incompreendido pelos ocidentais. Outro resquício de sua origem
e educação chinesas e de sua inquietude criativa pode-se perceber na modelagem de terracota, para obter os tradicionais soldados
do imperador, técnica essa adotada por seus ancestrais desde, pelo menos, três séculos antes de Cristo. Por fim, outra
arte a que se dedica David Wang é a culinária. Mantém um restaurante em Londrina, o Baisan, no qual serve comida
chinesa. Em lugar de reclamar dos abrolhos da vida de artista, ou de desanimar-se, ou de ter outras atividades afastadas de
seu ofício artístico, dedica-se integralmente à arte, dando vazão a sua capacidade criativa, mantendo suas extremidades perceptivas
sempre atentas à energia da inovação e da inventividade. É assim que David, amalgamando a arte oriental e conceitos ocidentais, recria as possibilidades
e perspectivas da já bastante miscigenada cultura brasileira.
Luiz Roberto Lins Almeida
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